dimanche, novembre 07, 2010

De mãos dadas

Não espero mais que tuas mãos sejam nas minhas
o que são minhas mãos nas tuas
Duas mãos, quando unidas,
não tocam além do que podem sentir
Mas que o tempo percorra nossas mãos dadas
como traços de um mesmo e irreversível rabisco

Não pretendo em teus olhos meus olhares
O que cada olho respira tem o ritmo de quem vê
Quero meus olhares nos teus olhos
do jeito que eles me puderem respirar

Não te quero pra mim, mas comigo.
De mãos dadas, não atadas,
Que assim sejamos

Meu caminho entre as coisas
É o que as coisas percorrem dentro de mim
Nosso caminho é o que construímos, de mãos dadas.

Mas se agora não sabemos mais nossas mãos o que tocam,
E não imaginamos mais nossos caminhos desatados...
não sei.
O que são minhas mãos nas tuas?


lundi, septembre 27, 2010


"No physical system is, or ever can be, truly isolated"
(Callen, em Thermodynamics and an introduction to Thermostatistics)


Callen e suas frases de efeito, altamente sugestivas e estendíveis-a-contextos-outros.

Estava quieta, no meu canto, fazendo minhas caladas contas. Até que se esboça uma pergunta e tudo o mais vai pro inferno (meu bem). A culpa foi do Callen, eu nem estou podendo viajar, mas foi inevitável.

A questão era se a gente podia entender a entropia como sendo uma quantidade associada a cada partícular (oscilador quântico, no modelo do sólido de Einstein). Na termodinâmica, a entropia surge como uma incógnita necessária e notável. Mas uma incógnita, sem qualquer interpretação física comparável à energia, volume ou número de partículas, por exemplo (quantidades globais do sistema, assim como a entropia).
Blaaaaaaaa, não dá pra explicar o cada-passo do caminho, mas veja-se: considerando as várias formas microscópicas de um sistema se apresentar de uma forma macroscópica, eis que surge, como quem não quer nada, a entropia! Uma quantidade que carrega dentro de si todas as possibilidades microscópicas de ter uma mesma aparência macroscópica!!!!

Quantizar a natureza, considerando unidades de matéria e energia, permite enxergar que o que é singular e impenetrável macroscopicamente é na verdade um plural inconstante, mas não arbitrário, de singulares.
Isso não é apenas bonito, é calculável! :
"[as forças de interação (gravitacional, eletromagnética, fraca e forte)] que existem não apenas unem espacialmente sistemas materiais separados, mas os próprios campos de interação [produzidos por essas interações!] constituem sistemas físicos em interação direta com os sistemas de interesse. O vácuo completo é agora entendido como uma complexa entidade flutuante em que ocorre contínuos processos de criação e reabsorção de elétrons, pósitrons, neutrinos e uma miríade de outras entidades subatômicas exóticas" (tradução livre, trecho da p. 330, Callen)

É nesse sentido que todos os sistemas físicos estão interligados..



E é muito difícil não se sentir propriamente uma entidade exoticamente flutuante, sujeita a todas as interações possíveis e sujeito de todas as interações mais amplamente possíveis.
O problema é que são construções que se podem afirmar dentro do escopo físico apenas, a partir do que se diz matéria, tempo, espaço. E do que se calcula.

Mas sim, essas coisas são muito fortes e desconcertantes .. faz com que a gente pense em cada interação possível entre as próprias palavras.
Labirintos de espelho................................................


Eu nem ia escrever isso tudo. Queria apenas registrar aqui uma dorzinha fina que veio quando li a tal frase de Callen.
Mesmo que tudo seja assim tão interligado, a gente parece estar numa escala tal que as separações são inevitáveis. Daí nossa insensibilidade, daí nossa sensibilidade. Em vários vários sentidos.. Nem que seja pra medir, pensar, escrever, sentir, ... as distâncias são criadas no tempo e no espaço. E na matéria. Seja lá o que essas coisas sejam de fato (e o que um fato seja).

Se um dia a abstração for tanta tanta e tão mais aguda, a gente vai poder concluir que a solidão é uma entidade macroscópica. E astronômica.. Tão ilusório quanto inevitável.




Talvez o mais complicado pra um cientista seja distinguir o que se sabe do que nem se suspeita.
Que a gente só pode partir necessariamente do que sente, é fato cada vez mais amplo e rigoroso.. Mas nem sei.. .

samedi, juillet 10, 2010

Luto


Há uma espécie de luto por detrás de tudo o que vive

E o escuro que envolve a luz torna o que se vê tão frágil... Mas quem vive sente o visível tão único e especial, tão intenso.

Quando fotografei essa flor de cactus, a imagem me pareceu retratar a paixão. Qualquer que seja.
Na verdade, a história que envolve essa flor merece um texto à parte, que apenas comecei a escrever.
Ela explode na esquina daqui de casa vezenquando. Dizem que anuncia a chuva..


Explodem e logo desaparecem. Não sei se morrem ou simplesmente respiram.


Perdi um grande professor de física essa semana, hoje fazem sete dias. Mário Assad...
Não sei se pelo fato de ele me ter incentivado a olhar a natureza tal-como-ela-é, como poucos professores de física o fazem, mas a dor de não compreender o que é Natural brilhou muito aguda.
Não sei se ele morreu ou foi a natureza que deu outro suspiro.. se algo permanece. Nem se a energia se conserva, como a gente aprende a calcular (erguendo universos a partir disso).
Ao que tentem consolar, dizendo que a morte é natural, sinto ser por esse motivo ela tão dolorosa.


E a vida tem algo de paixão também.. a gente sente uma certa posse.. .
O sujeito que se define, artigo. Que se isola, define as próprias fronteiras.
Por todos os lados, a natureza mostra que isso é ideal, que não há sistemas de fato isolados, que tudo se interliga, quanto mais fundo se olha o espelho ___________

mas não sei se se pode fugir das delimitações
Ao menos na nossa escala, do nosso ponto de vista, na ponta dos dedos.. as distâncias surgem. Tudo parece sólido, impenetrável. Podendo cair e quebrar, estridente.
E o medo de restar, ficar só, de todos aqueles que a gente ama irem embora pra não-se-sabe-onde.
Cíclico.


Talvez o mais simbólico nessa foto seja a ausência do que sustenta esse ramo de Vida. De onde se vê, é tudo o que se vê. Algo que paira no espaço e no tempo.
Explosão suspensa: grito de luz refletindo silêncio.


Bem provável que eu nunca termine de escrever sobre a flor, vida, paixão.. nem mesmo entenda em que se sustentam.
Outra coisa: tudo fica um pouco sem sentido e inexplicável também. É preciso respirar fundo pra continuar vivendo, apaixonando, estudando, sentindo.

Resta guardar o que se pode perceber na lembrança, dentro. E continuar respirando tudo o que contrasta aos sentidos.
Sentir.. o que nos liga e separa. Definitivamente.
Até quando/onde não se puder mais

.



dimanche, mai 16, 2010

construição



Que fiquem fora os que não souberem entrar
Minhas janelas continuarão abertas
Mas a porta, deixarei encostada.


Sou um dentro que nunca se soube
No que também fora não poderia
Mas sinto em volta qualquer envoltura
E dentro há o mesmo receio flexível
De uma porta encostada
Que já cansei de escancarar, vendo entrar apenas vento frio


Que chegue quem me souber o caminho
Quem sentir qualquer cheiro do que quer que seja
Mas que seja
Caso venha, a ser
E que não bata à porta
Deixe quem sabe um bilhete por debaixo
Ou cante qualquer luz perto da janela...
É de mim que me protejo.


Não posso mais dar meus céus a qualquer asa
Nem mesmo a quaisquer de minhas nuvens
Deixo que voem e pairem,
Mas sinto agora qualquer telhado.



vendredi, avril 16, 2010

Transnítido


O que distante havia de mais distinto

Era a cor pura que não distingüia forma
Sem arestas...
Tudo em volta se desmancha
Quando a luz me alcança míope
Apenas aquela distância era nítida
Suspensa...
Como as reticências que pairam
No que acentua a ambigüidade
Uma nuvem sobreformou-se
Fronteirando o que disforme havia,
Sobretudo.


lundi, avril 12, 2010

É fácil ver



O conforto e paz de espírito foram tantos que preciso registrar aqui, neste lugar até calmo por hora mas que está repleto de mágoas e turbulências e... cantos de cigarra, por mais serenos e naturais que o queiram ser.
Pois bien!! A edição em espanhol do Thermodynamics (and etc), de Herbert B. Callen está me inspirando bastante..... a vantagem de se ler em espanhol é que há algo de trôpego na leitura, algo que baila caliente, que rrrrico! Algo de bêbado também, muy borracho.

Mas esse trecho em especial serve para apaziguar mesmo quem não se interesse por Termodinâmica, mas pela vida como um todo. E em si, logicamente.

Perceba-se:

"Incluso una consideración sumaria de los diversos estados de un sistema dado
pone en evidencia que algunos estados son relativamente simples y otros son relativamente
complicados. [verdade... =/]. Así, un fluido en reposo se encuentra evidentemente en
un estado más simple que en flujo laminar. Y un fluido en flujo laminar se halla,
a su vez, en un estado más simple que en régimen turbulento. Además, se observa
experimentalmente que los sistemas aislados tienden en general a evolucionar
espontáneamente hacia estados finales simples.
[!!!! merece até destaque:]
"La turbulencia en los sistemas
fluidos se amortigua con el tiempo; la falta de homogeneidad en la concentración
desaparece finalmente debido a las corrientes de difusión; y las deformaciones
plásticas ceden ante tensiones internas no homogéneas."


Está claro?
Sejamos naturais....... as turbulências se amortecem com o tempo. Ah, meus amigos, e aquelas faltas de homogeneidade na concentração mental, emocional, seja lá qual for: desaparecem finalmente devido às correntes de difusão!
Pois bem, sigamos as nossas correntes de difusão, busquemos o equilíbrio.
Somos natureza, irmãos termodinâmicos ou não.
Todos somos.
Muita luz, siempre: é fácil ver!



Paz.

samedi, avril 10, 2010

Esverdeado


Dou minhas asas a quem tem céu
No sorriso, nos olhos, nos movimentos
E não apenas nos braços sempre abertos e azuis
Quando se voa dentro do azul
E o que se vê é transparente
A impressão que se tem é a de que as cores
Têm uma dimensão a mais
E uma a menos
Mas como não resulta a mesma sentida
A vontade que dá é mesmo a de fechar os olhos
E deixar qualquer cor
Olhar nossas nuvens e vazios e desabamentos
Com asas transparentes

Mas toda luz branca tem voz de prisma

vendredi, mars 26, 2010

Pausa dramática



- E se eu não misturasse tanto tudo num só nada?
- Humpf, disse o espelho.






mardi, mars 23, 2010

Asas de cigarra



I

E se eu pisasse apenas no chão?
Quem sabe não saberia por onde ir...
E se dissesse apenas o pronunciado
Cantaria de forma plena?
Antes desistisse de escrever
A solidão não teria possibilidade de ser lida
E a ausência seria apenas ausência, ponto.
Aceitaria pensar de uma única forma
Teria tudo uma única semântica, fora.
Esperaria que tudo lhe visse no singular
Cada lágrima seria palpável e estaria toda
Dentro do que se pudesse enxugar
Há cigarras no som das palavras, no espaço (dentro).



II

Os tempos verbais oscilam
Entre o que tem claridade e o que sabe ser escuro
E dançam na chuva mesmo que ela não lhe caia
O tempo do que se escreve nem precisa
Ser o mesmo do que aquele em que se lê
- Espaço Lingüístico de métricas e rimas indefiníveis
Que já define o em torno
Dois pontos: infinito e plural.

Seja como-for, linguagem é sempre espelho.
Antes não refletisse tanto a vontade do que é simétrico
O leitor dual, o Outro, a correspondência...
Silêncio guardando a espera e o esperado, nulo.

Guardo sempre um silêncio esperando quem o consiga achar
O que sempre não digo precisando que me adivinhem
Máximos detalhes: insuspeitados
Vontade de assumir o impermeável da redondeza.

O medo do inverno que ameaça:
E se eu desistisse de escrever?



III

Não sei viver de forma explícita, delimitada
Quero seguir explodindo e calando
Aqui, no eterno presente das Palavras em plenoutono:
Outono é tempo de cigarras

Gosto de andar de forma reticente...
Uma pausa em cada ponto, em cada passo (aberto)


vendredi, mars 12, 2010

É preciso?


Sabe quando a gente sente a necessidade de se mostrar seguro de si frente às crianças, quando elas nos perguntam algum por quê? Não me excluo disso, várias vezes me peguei respondendo coisas absurdas ao meu irmão mais novo, desde que ele começou a falar... e até mesmo agora, que ele tem oito anos. Pode-se agir de forma infantil de dois jeitos ao menos: de forma sincera, por de fato ser criança e ter uma curiosidade que pode soar como descabida, ou de forma tola. Sim, há a analogia de que cientistas são eternas crianças, que sempre perguntam (à natureza, não a si mesmos) o porquê de tudo, mesmo quando o senso comum patenteia uma certa obviedade. Aliás, geralmente patenteia-se obviedade sobre o que é tão simples que não dá pra explicar. Claro, muitas vezes essa simplicidade esconde uma complexidade tal que não pode ser entendida. Ora, mas as crianças não entenderiam se fôssemos lhes explicar a verdade... em parte porque só sabemos explicar as verdades entendidas numa linguagem que elas ainda não aprenderam. O interessante também é ver como elas criam realidades as mais surreais e vivem muito livres de contradição ali dentro. Quer dizer que, faz de conta... Talvez a gente deixe de ser criança quando aprende direitinho o faz de conta coletivo. Fazemos toda uma natureza de contas. Mas que essa crítica não seja pesada. Ou melhor, pesada de qualquer forma, em qualquer campo gravitacional. Não estou questionando nem de longe que as coisas existem unicamente da forma como existem. A crítica cai em cima do que somos da forma que somos. O problema (ou a graça) não está no que é natural, mas na forma como entendemos (e somos) esse natural. As certezas formam-se involuntariamente, é preciso reconhecer ordem, é inevitável reconhecer o que se tornou familiar. Mas é ainda conveniente que se reconheça a possibilidade de novas ordens. Porque sempre fica o que não se entende, mesmo quando se explica. Às vezes a gente parece olhar pro espelho e responder àquela criança que ficou que é tudo muito simples, não havendo motivo pra alarde. É uma crise infantil, vai passar assim que a gravata estiver dada ao nó.


Bom, isso escrevi depois de ler esse trecho em especial:

“Portanto, é bom procurar o sentido e os fatos que ficam por detrás das palavras. Ao voltar às definições, o matemático procura assenhorear-se das reais relações de elementos matemáticos que estão por detrás dos termos técnicos, assim como o físico procura confirmações experimentais para seus termos técnicos e o homem comum, com algum bom senso, procura chegar aos fatos reais e não ser iludido por meras palavras.” (trecho de A Arte de Resolver Problemas, Polya)


Sim, reconheço a intenção do que está sendo dito, linguagem cria alguns labirintos espelhados mesmo. Não vou exagerar e ver nisso a afirmação de que a verdade a ser alcançada é única, singular. Mas as entrelinhas disso dizem que a qualidade lingüística da matemática é puramente heurística. Creio que verdade seja sempre o que se busca e que matemática seja essencialmente uma linguagem, com seus signos, símbolos convencionados, intérpretes... criadores. Linguagem artificial, claro. Objetiva, pelo que lhe objetivam. “Navegar é preciso; viver, não”.

lundi, mars 08, 2010

Fictício



Sempre que queria afirmar algo,
inventava um personagem.
Porque, sendo uma pessoa real,
podia com esse algo não tocar a realidade.
Assim falavam sobre as flores, as estrelas, os números e as pedras
as pessoas que assim percebiam as flores, as estrelas,
os números e as pedras
E sempre estavam certos, por mais que discordassem,
As pessoas que interpretava
Dentro do mundo afirmado

E nunca fora incoerente...
Mas sua voz não fez senão ouvir
Nos olhos, o silêncio do que é natural.


jeudi, février 25, 2010

Ecos

Caramba.. pois não é que, relendo esse trecho de Eco............. ... ... !
Nossa, me pareceu tão claro. (Devo ter medo?) Ora pois não... o sujeito que constrói e é construído pelo signo. O sujeito que percebe e a percepção que vira sujeito............. não entendo agora o porquê de meu alarde.
Ah, mas deve ter sido o conjunto todo que levou e foi levado por esse parágrafo. Sabe quando você engole uma nuvem e só depois consegue digerir e entender que tava no céu?

As nuvens........

Engraçado, devo confessar aqui, depois que comecei a fazer Física virei uma nuvem. Pairando aqui a sinceridade mais plena. Fui perdendo cada uma de minhas certezas........ vi que não se constatam matéria, tempo, espaço.. evidências vêm de dentro, não estão à nossa espera, como pedras no meio do caminho.. mesmo a matemática que eu via como algo tão sólido. Mesmo os amores que pareciam eternos...
Parece que tudo afinal é construído e constrói.
E não poderia ser diferente..
Não que se questione o real das coisas. Do contrário, o real das coisas é inquestionável pelo que inexprimível. Mas há caminhos no meio da pedra. Significar o real das coisas, onde estamos e somos, abstrair realidades de coisas outras... tudo isso é produto da consciência. E tudo isso é o que a caracteriza também.
E tudo isso flui nas diferenças de potencial: o talvez que escorre entre o sim e o não.

...

Ah, nunca quis ser clara-e-objetiva mesmo..






Que a paz de Caeiro esteja convosco.
E que assim seja.

mercredi, février 24, 2010

Bom, o meu é capricórnio...

Sempre me atormentou a sombra do hermetismo em meus textos. Já criticaram o (suposto) fato de eu escrever pra dentro, já pra ninguém entender. Ok, vá lá, pode ser mesmo. Não fosse assim, eu não consideraria tão especial o (suposto?) fato de ser entendida pelas pessoas mais próximas.. é aquela história de 'Preciso de um abajur'.

Mas enfim, como nem tudo é literatura e eu estou em fase monográfica, tenho que me preocupar com a clareza sim. Já dei umas boas viajadas.. pudera, minha monografia vai tratar de como a matemática é uma linguagem.. percepção pra lá, cognição praculá...

Só que ontem me veio a certeza de que, sim, sou uma pessoa clara afinal!! Clara e objetiva, não tanto nas palavras, mas no espírito mesmo.........! Cheguei a essa conclusão lendo o que consegui ler de Semiótica e Filosofia da Linguagem, de Umberto Eco.
aaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, senão vejamos:


sobre as relações entre signo e sujeito:::::::

“Então, se se podia dizer que o signo como igualdade e identidade é coerente com uma noção esclerosada (e ideológica) de sujeito, o signo, como momento (sempre em crise) do processo de semiose, é o instrumento através do qual o próprio sujeito se constrói e se desconstrói constantemente. O sujeito entra numa crise benéfica porque participa da crise histórica (e constitutiva) do signo. O sujeito é aquilo que os constantes processos de ressegmentação do conteúdo permitem que ele seja. Neste sentido (embora o processo de ressegmentação tenha de ser realizado por alguém, e surja a suspeita de que seja uma coletividade de sujeitos), o sujeito é falado pelas linguagens (verbais ou não), não pela cadeia significante, mas pela dinâmica das funções sígnicas. Somos, como sujeitos, o que a forma do mundo produzida pelos signos nos permite ser. Somos, talvez, em alguma parte, a pulsão profunda que produz a semiose. No entanto, reconhecemo-nos apenas como semiose em ato, sistemas de significação e processos de comunicação. Somente o mapa da semiose, como se define num determinado estágio do percurso histórico (com as rebarbas e os detritos da semiose anterior que arrasta consigo), nos diz quem somos e o que (ou como) pensamos. A ciência dos signos é a ciência de como se constitui historicamente o sujeito. Provavelmente Peirce estava pensando nisto ao escrever: «Uma vez que o homem só pode pensar através de palavras ou de símbolos externos, estes poderiam começar a dizer: "Você não significa nada que nós não tenhamos lhe ensinado, logo você significa apenas por dirigir algumas palavras como interpretante de seu pensamento". Então, de fato, os homens e as palavras educam-se reciprocamente: cada acréscimo de informação num homem comporta - e é comportado por - um correspondente acréscimo de informação de uma palavra... A palavra ou signo que o homem usa é o próprio homem, pois, como o fato de que cada pensamento é um signo - considerado junto com o fato de que a vida é um fluxo de pensamentos - prova que o homem é um signo, assim o fato de que cada pensamento é um signo externo prova que o homem é um signo externo, isto é, o homem e o signo externo são idênticos, no mesmo sentido em que as palavras homo e homem são idênticas. Assim, minha linguagem é a soma de mim mesmo,, uma vez que o homem é o pensamento » (1868).”

samedi, février 20, 2010

Aresta redonda


Amor de flor e semente
Espelho e espelhado
Vice e versa:
Abraço de aresta
Entre a forma e a cor
Do mesmo quadrado azul

O rosto intocável
O céu que paira no silêncio
Os corpos e as palavras deitados na grama
"Olha, quero te dizer uma coisa...
mas nem sei..".
A voz deitada olha mas não se levanta

A grama já está no céu,
mas é tão difícil tocá-lo...

mercredi, janvier 27, 2010

chamo de ddp?

Quero escrever qualquer coisinha bem bonita.
Bonita e leve, que dê pra acompanhar o vento...

mas que não se despedace.

E que não seja triste também.
Que não esteja fugindo, mas indo só
como o sempre que se deixa fluir.

- As coisas fluem pela diferença de potencial.