lundi, septembre 27, 2010


"No physical system is, or ever can be, truly isolated"
(Callen, em Thermodynamics and an introduction to Thermostatistics)


Callen e suas frases de efeito, altamente sugestivas e estendíveis-a-contextos-outros.

Estava quieta, no meu canto, fazendo minhas caladas contas. Até que se esboça uma pergunta e tudo o mais vai pro inferno (meu bem). A culpa foi do Callen, eu nem estou podendo viajar, mas foi inevitável.

A questão era se a gente podia entender a entropia como sendo uma quantidade associada a cada partícular (oscilador quântico, no modelo do sólido de Einstein). Na termodinâmica, a entropia surge como uma incógnita necessária e notável. Mas uma incógnita, sem qualquer interpretação física comparável à energia, volume ou número de partículas, por exemplo (quantidades globais do sistema, assim como a entropia).
Blaaaaaaaa, não dá pra explicar o cada-passo do caminho, mas veja-se: considerando as várias formas microscópicas de um sistema se apresentar de uma forma macroscópica, eis que surge, como quem não quer nada, a entropia! Uma quantidade que carrega dentro de si todas as possibilidades microscópicas de ter uma mesma aparência macroscópica!!!!

Quantizar a natureza, considerando unidades de matéria e energia, permite enxergar que o que é singular e impenetrável macroscopicamente é na verdade um plural inconstante, mas não arbitrário, de singulares.
Isso não é apenas bonito, é calculável! :
"[as forças de interação (gravitacional, eletromagnética, fraca e forte)] que existem não apenas unem espacialmente sistemas materiais separados, mas os próprios campos de interação [produzidos por essas interações!] constituem sistemas físicos em interação direta com os sistemas de interesse. O vácuo completo é agora entendido como uma complexa entidade flutuante em que ocorre contínuos processos de criação e reabsorção de elétrons, pósitrons, neutrinos e uma miríade de outras entidades subatômicas exóticas" (tradução livre, trecho da p. 330, Callen)

É nesse sentido que todos os sistemas físicos estão interligados..



E é muito difícil não se sentir propriamente uma entidade exoticamente flutuante, sujeita a todas as interações possíveis e sujeito de todas as interações mais amplamente possíveis.
O problema é que são construções que se podem afirmar dentro do escopo físico apenas, a partir do que se diz matéria, tempo, espaço. E do que se calcula.

Mas sim, essas coisas são muito fortes e desconcertantes .. faz com que a gente pense em cada interação possível entre as próprias palavras.
Labirintos de espelho................................................


Eu nem ia escrever isso tudo. Queria apenas registrar aqui uma dorzinha fina que veio quando li a tal frase de Callen.
Mesmo que tudo seja assim tão interligado, a gente parece estar numa escala tal que as separações são inevitáveis. Daí nossa insensibilidade, daí nossa sensibilidade. Em vários vários sentidos.. Nem que seja pra medir, pensar, escrever, sentir, ... as distâncias são criadas no tempo e no espaço. E na matéria. Seja lá o que essas coisas sejam de fato (e o que um fato seja).

Se um dia a abstração for tanta tanta e tão mais aguda, a gente vai poder concluir que a solidão é uma entidade macroscópica. E astronômica.. Tão ilusório quanto inevitável.




Talvez o mais complicado pra um cientista seja distinguir o que se sabe do que nem se suspeita.
Que a gente só pode partir necessariamente do que sente, é fato cada vez mais amplo e rigoroso.. Mas nem sei.. .