vendredi, mars 12, 2010

É preciso?


Sabe quando a gente sente a necessidade de se mostrar seguro de si frente às crianças, quando elas nos perguntam algum por quê? Não me excluo disso, várias vezes me peguei respondendo coisas absurdas ao meu irmão mais novo, desde que ele começou a falar... e até mesmo agora, que ele tem oito anos. Pode-se agir de forma infantil de dois jeitos ao menos: de forma sincera, por de fato ser criança e ter uma curiosidade que pode soar como descabida, ou de forma tola. Sim, há a analogia de que cientistas são eternas crianças, que sempre perguntam (à natureza, não a si mesmos) o porquê de tudo, mesmo quando o senso comum patenteia uma certa obviedade. Aliás, geralmente patenteia-se obviedade sobre o que é tão simples que não dá pra explicar. Claro, muitas vezes essa simplicidade esconde uma complexidade tal que não pode ser entendida. Ora, mas as crianças não entenderiam se fôssemos lhes explicar a verdade... em parte porque só sabemos explicar as verdades entendidas numa linguagem que elas ainda não aprenderam. O interessante também é ver como elas criam realidades as mais surreais e vivem muito livres de contradição ali dentro. Quer dizer que, faz de conta... Talvez a gente deixe de ser criança quando aprende direitinho o faz de conta coletivo. Fazemos toda uma natureza de contas. Mas que essa crítica não seja pesada. Ou melhor, pesada de qualquer forma, em qualquer campo gravitacional. Não estou questionando nem de longe que as coisas existem unicamente da forma como existem. A crítica cai em cima do que somos da forma que somos. O problema (ou a graça) não está no que é natural, mas na forma como entendemos (e somos) esse natural. As certezas formam-se involuntariamente, é preciso reconhecer ordem, é inevitável reconhecer o que se tornou familiar. Mas é ainda conveniente que se reconheça a possibilidade de novas ordens. Porque sempre fica o que não se entende, mesmo quando se explica. Às vezes a gente parece olhar pro espelho e responder àquela criança que ficou que é tudo muito simples, não havendo motivo pra alarde. É uma crise infantil, vai passar assim que a gravata estiver dada ao nó.


Bom, isso escrevi depois de ler esse trecho em especial:

“Portanto, é bom procurar o sentido e os fatos que ficam por detrás das palavras. Ao voltar às definições, o matemático procura assenhorear-se das reais relações de elementos matemáticos que estão por detrás dos termos técnicos, assim como o físico procura confirmações experimentais para seus termos técnicos e o homem comum, com algum bom senso, procura chegar aos fatos reais e não ser iludido por meras palavras.” (trecho de A Arte de Resolver Problemas, Polya)


Sim, reconheço a intenção do que está sendo dito, linguagem cria alguns labirintos espelhados mesmo. Não vou exagerar e ver nisso a afirmação de que a verdade a ser alcançada é única, singular. Mas as entrelinhas disso dizem que a qualidade lingüística da matemática é puramente heurística. Creio que verdade seja sempre o que se busca e que matemática seja essencialmente uma linguagem, com seus signos, símbolos convencionados, intérpretes... criadores. Linguagem artificial, claro. Objetiva, pelo que lhe objetivam. “Navegar é preciso; viver, não”.

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