dimanche, juillet 27, 2008

A pena da terceira excluída

Sim, isso pode parecer meio dramático, mas talvez a intenção seja essa. Pois que caí na bobagem de murmurar algo como "ah, eis um terceiro excluído, rs" perto de minha irmã. Ela perguntou "o quê?" e eu "Nada não" [ela não quer saber mesmo, bla.]. Dada a insistência dos "ah, agora fale", cedi. Como não costumo me expressar bem na linguagem oral (não que eu escreva bem, mas que.. sempre fico meio constrangida no espaço tridimensional. Aquela coisa na iminência de cair..eu heim.), arrulhei proposições e contradições. Bla. Ela não entendeu. Que terceiro seria esse? Confesso ter-me esboçado uma pergunta dessa. Ora, o terceiro que não há. Justamente por (não) dar seqüência a uma contradição. Tempos depois, percebendo minha dificuldade em explicar isso a alguém, fui perguntar ao oráculo de nossa geração se ele poderia me explicar melhor o que extensas aulas de Metodologia da Ciência teceram tão belamente. E então Google fez referência à Santa Wikipédia [ela é sempre atenciosa aos pobres pecadores que querem explicações (digo concisas?) enxutas sobre qualquer coisa. Enfim. Ela, como sempre, atendeu aos meus pedidos, dizendo que.. ora, por que não transcrevê-la.

"A lei do terceiro excluído (em latim resumida na expressão tertium non datur), é um princípio cujo enunciado consiste no seguinte: "ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade". É representada da seguinte maneira:
Exemplo: Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates.
Uma proposição só pode ser verdadeira se não for falsa e só pode ser falsa se não for verdadeira, porque o terceiro valor é excluído.

[editar] Referência:
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1998."


(Talvez não pudesse ser mais simplória a explicação, nem batida a referência).

Feliz com o parágrafo suficiente (antes necessário), corri minha voz saltitante até ela. Pronto, cá está! \o/. Ela leu e disse, talvez não com essas palavras: "Isso é a coisa mais ridícula que existe! Por favor (risos)", "qualquer um sabe disso", "ninguém precisa de uma fórmula pra dizer que ou isso aqui é um papel ou não é.. humpf" "ronc-ronc". Entrecortanto isso, eu falava mas isso não é uma fórmula, criatura! É uma forma! Uma forma de dizer. Sim, mas é um dos pilares da lógica... sim, justamente por isso, ora. Ah, serve pra muita coisa sim! É só uma forma de dizer .............. .
Voltou ao quarto, desdenhando minhas considerações quanto ao inocivo terceiro agora mais excluído ainda. Logo mais, após algum atrito estático com minha mãe, as pausas entre as vozes de Chico e Bethânea que me abraçavam do fone de ouvido me permitiram ouvir da voz dela coisas como "vou fazer uma fórmula pra você, só assim você entende". Confesso que ela tem muita elegância em seus trocadilhos, adoro. Mas....... não é engraçado o desprezo que se tem, personalizado por minhas familiares, em relação ao Expressar-se matemático.
É "só" uma Forma de Dizer! Aspas pela grandiosidade e talvez onipresença da proposição. Letras Maiúsculas por si.
[estado melodramático-com-sentido: ouço agora Pas si Simple, da trilha de Le Fabuleux Destin D'Amélie Poulin... que divino-maravilhoso! Bem, e o título é mais que sugestivo nesse caso. Essa é A trilha musical]
Onde estávamos: pois é... Não parecem ver Necessidade em se postular um Terceiro Excluído. Mas... e se não se postulasse? Teríamos um acordo tácito. Todos saberíamos que, se chove, chove. E ninguém consideraria a hipótese de chover e não chover. Todos, na calada de suas noites, excluiriam o Terceiro. Mas não é só de silêncio que se faz uma Comunicação, ora pois pois. A Matemática precisa dizer-se. Precisa explicitar a Lógica, seja e/ou não seja a Lógica exterior a ela. Todos sabem das pedras do meio do caminho, mas a necessidade e o sentido de falar delas é justamente a necessidade e o sentido de considerá-las. Qualquer que seja o fim.
Desprezem a Poesia, e ela não perderá o Sentido. Façam, pois, o mesmo com a Matemática.



Sim, o sentido só é sentido quando se sente.



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Mas... seria o Terceiro sempre excluível? Estamos falando num mundo de Dalis, Kafkas, Caetanos e Newtons da Costa, meus caros!"Que terceiro seria esse? Confesso ter-me esboçado uma pergunta dessa. Ora, o terceiro que não há. Justamente por (não) dar seqüência a uma contradição."Bem, não é preciso ser um lógico paraconsistente para refutar isso...

Em todo caso, sinto-me uma verdadeira e existente terceira excluída.