samedi, mai 19, 2007

Malemolência

Queria eu ser minha sombra
Deitar sobre o concreto
Tirar a profundidade da angústia que me abstrai
Trair a confiança dos que me têm real
Deixar minha consciência com duas dimensões
Erguer o inconsciente tridimencional
Palpável, permeável, profundo, surreal

Ele me levaria arrastada
Não para os instantes preditos
Mas para os campos floridos
Feridos, talvez, mas bonitos
Correria ao encontro do caminho

Deitaria sobre mim
Me protegeria da chuva ácida qu'eu derramo
Lá de dentro, chorando pra dentro
Deitaríamos sobre os sonhos
Dissolveríamos entre as flores
E nunca mais nos veriam
Viria a noite e levaria a existência
Foi-se a luz do Sol
Foi-se a sombra do que fui
Fui andando só
Fez-se flor do que ficou
- Mais uma flor do campo da Malemolência

dimanche, mai 06, 2007

Visitante (Marco Valladares)

Hoje, fiquei escutando canções
Que nunca ouvi junto com você,
Mas que são nossas canções.
E embarquei numa viagem boa
Por uma cidade que nunca fui;
Andando por ruas que nunca vi;
Até que cheguei em frente à casa
Onde sei que você espera
Que eu nunca bata à porta.
Assim o fiz, parado, olhando,
Esperanto que num momento,
Ao menos por um instantinho,
Você aparecesse na janela
E sorrisse este sorriso lindo
Sorrido apenas por você!
Cada canção trazia-me, então,
Um jeito de, ali, te esperar.
Melancólico, no compasso do blues;
Ansioso, em um rock oitentista;
Tenso, numa balada de amor;
Feliz, em todas as canções.
Você não veio à janela ver
Que eu estava a te esperar;
Mas pude ver, no seu jardim,
Uma flor em botão desabrochar.
Reguei-a com lágrimas de amor
E desliguei o som e o sonhar.
Hoje, fiquei escutando canções...