vendredi, mai 16, 2008

Preciso de um abajur

Preciso de um abajur. Que ponha em clarividência os escritos perdidos na escuridão. Eles, assim que me saem, assustam-se com a escuridão - escondem-se debaixo dos lençóis. Mas, debaixo, quando me tocam, me percebem, assustam-se mais ainda.. e fogem. Nos escuros, não vejo onde. Tento outros, clonagens mal-feitas. Mesmo que gerem descendentes que propaguem a espécie. Não, não era aquele. Não tinha a mesma... unidade. O plural que perdi pelo meio das palavras amassa com as mãos o que não escrevi: aquilo. E joga fora? Oh, não, por favor! Tudo bem, voltem quando puderem. Mas mesmo em a luz estando presente, iluminaria o que de dentro do porão sai de olhos fechados? Mesmo na ponta do lápis, muitas vezes caem titubeantes, até tombarem nas entrelinhas. Fazendo com que eu acredite estarem escritas. Mas talvez alguém as leia. As-saiba. Como talvez eu possa um dia conseguir ler todas as minhas entrelinhas e entreporos e entresinopses. Ah, e talvez eu saiba esse alguém.. e ele será por minhas linhas e poros e sinopses amado, não como a um outro nome-homem-ou-mulher, mas como a um talvez outro conjunto de linhas e poros e sinopses abraçáveis. A + A = 2A, o que não deixa de poder ser descrito como: duas solidões juntas não deixam de estar-em [só(i)s]. Muito embora. Não deixa de ser. Talvez daí decorra a Razão porque escrevo. Mesmo com as frustrações de não encontrar termos, meios, hífens. Mesmo tendo-me nua quando em olhos extra-contextuais. Mesmo. Talvez. Resumindo, preciso de um abajur.








* imagem vinda das entranhas de Marquinho Valladares.

7 commentaires:

Letícia a dit…
Ce commentaire a été supprimé par l'auteur.
Letícia a dit…

Carolina,

Se eu pudesse, colecionaria abajur e espelho. Aliás, já coleciono espelho - de toda cor - aquele com estrelinha e tudo. Preciso de abajur - tipo esse que rendeu esse texto perfeito. Clarividências e Carolina e Maíra. Sempre texto que faz pergunta, mas hoje, talvez por causa da necessidade do abajur (Que palavra linda) - você trouxe resposta.

"Ah, e talvez eu saiba esse alguém.. e ele será por minhas linhas e poros e sinopses amado, não como a um outro nome-homem-ou-mulher, mas como a um talvez outro conjunto de linhas e poros e sinopses abraçáveis. A + A = 2A, o que não deixa de poder ser descrito como: duas solidões juntas não deixam de estar-em [só(i)s]."

(Maíra Vasconcelos)

Resposta com talvez também é resposta. E duas solidões juntas é aquele amor que nós sabemos. Amor que existe.

Texto Digno De Ser Texto.

Bjs...

Letícia

Letícia a dit…

Commentaire supprimé, but I sent another. There was a missing letter in a word. :)

Anonyme a dit…

... céus...

Acho que achei de novo a menina que me apresentou a Carl Sagan!

: )!!

Feliz por isso...

Marco Valladares a dit…

Impossível não traçar um paralelo mental com ‘A Idéia’ de Augusto... (“Preciso de um abajur. Que ponha em clarividência os escritos perdidos na escuridão”... “De que matéria bruta / Vem essa luz que sobre as nebulosas / Cai de incógnitas criptas misteriosas”...); (“Como talvez eu possa um dia conseguir ler todas as minhas entrelinhas e entreporos e entresinopses....” “Vem da psicogenética e alta luta / Do feixe de moléculas nervosas, / Que, em desintegrações maravilhosas, / Delibera, e depois, quer e executa!...”). Mas, da mesma forma, é também impraticável não observar a impressão digital, única e indelével, do seu talento original, onde o infinito é aqui, no encontro entre o (dito) paralelo existente entre o exato e o abstrato. E “talvez, quem sabe, um dia, por uma alameda do zoológico ela também chegará” e abrirá a jaula do tigre que só espera a chance de devorar este talento “tal qual Caetano a Leonardo de Cáprio”. E, voltando ao augusto Augusto, “Mocidade, portanto, ergue o teu grito, / Sirva-te a crença de fanal bendito, / Salve-te a glória no futuro - avança!”... Cáspite!

Lalo Oliveira a dit…

'A + A = 2A, o que não deixa de poder ser descrito como: duas solidões juntas não deixam de estar-em [só(i)s]'

Bonito isso. =D

AlrishA a dit…

:D

Há quanto tempo não passo por aqui!
Bem... acho que você já tem um abajur... ou não precisa, rsrsrsrs
E, a propósito... a álgebra às vezes nos faz ter saudade do próprio escrita, ou melhor, do significado na linguagem, não é mesmo?

bjokasssssssss