samedi, novembre 03, 2007

Tô Sangrando

Entenda-se minha recusa a assistir com freqüência aos telejornais: http://www.rederecord.com.br/programas/domingoespetacular/conteudo_ver.asp?c=268


Foi o que a criança, segundo a mãe, falou: Tô Sangrando.


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Eu queria dizer tudo Eu queria explicar as lágrimas em vez de só chorar. Eu queria que os neurônios soubessem, cada um, dizer cada uma das. "Tô sangrando"! Uma criança! Eu queria fazer alguma coisa que não quase asfixiar os pensamentos confusos e sem fusos e abruptos. Eu queria que as palavras -- todas elas -- se levantassem e impedissem e impedissem as mortes que se repetem. "Tô sangrando"! Uma criança! Escrever, escrever... pra quê? "Absolutamente perfeito, genial!" Pra quê? Pra chorar pelo que acontece ou pelo que não pára de acontecer? Aquela vontade de se esconder, João! Dada, imposta, outorgada a impossibilidade de aparecer.
Fechar-se
Parar de respirar Lutar contra o próprio bulbo contra si contrair-se
Contra o que não é sua culpa, por você já ter nascido aqui
em meio no meio sub.
"Tô sangrando"! Uma criança! Ela se escondia para sobreviver sub-viver


em meio no meio sub.
"Tô sangrando"! Uma criança! O último grito daquela criança...
E eu aqui escrevendo, pra quê? Que grandes contribuições não fluirão de minha pena? Quando uma bala fluiu e acertou essa criança?... fluiu de que mão? Do policial ou do traficante? "sinceridade" Havia sinceridade nos olhos do policial que tentou salvar o garoto, a mãe disse.
Havia sinceridade na bala, havia sinceridade no sangue do bandido no chão...
"Tô sangrando"! E o meu sangue? Circula em minhas veias indiferentes -- o sangue e as veias.
E o cérebro? Talvez. Por que me excluir? Não seria esse o âmago do problema?
Não estaríamos todos, sinceramente, nos livrando das culpas? Por termos todos (crianças, loucos, bandidos, policiais, poetas, cientistas, religiosos, jornalistas, escritores.. ad ad ad) nascido em meio do que já tinha meio? Olhemo-nos no espelho! Enlouquecemo-nos?
Meu Mestre se sente pequeno, o Meu mestre! Logo ele, todo ele...
"cuidado, meu amigo, não vá se estrepar. Não queira dar um passo maior que as pernas podem dar..." O olhar-se no Espelho anula a noção do tridimensional... teria Ele se olhado muito? Sim - o que disse. E o que vira? A si - o que pior. Ah, meu amor, meus amores... ...
A gente tem que saber a hora certa de fugir! FUGIR! daS realidadeS.
A realidade que sangra nos jornais... a realidade que dissolve o paupável, a realidade do espelho.
Espelha-se Reflete-se Reflita-se
A Grande Fuga! - String Quartet nº 13 in B-flat major. Ludwig Van! Meu mestre ama Voltaire!
Saiba fugir das realidades, meu amor. Saibam, meus amores!
Que eu saiba
Eu queria tanto que Marco estivesse aqui, papel.
A criança morreu.

3 commentaires:

Anonyme a dit…

Eu vi esta reportagem, o depoimento da mãe, em algum momento o marido a beija, só que o beijo não lhe vale nada em sua face desesperada.

Marco Valladares a dit…

Lágrimas de um coração sangrando de tristeza tingem rubro o sorriso pleno de orgulho em ler-te!

Quero a realidade dos teus sonhos!

Marco está aqui!

AlrishA a dit…

Oi, querida... que saudade!

Sim, a criança sangra, como também sangra a criança nós fomos. E o que deve mais sangrar em ti é que a tua criança sangrou junto com ela. Mas enquanto não houverem quem se sinta sangrar tanto como a ti, mais crianças sangrarão no despropósito da violência.
Mas não creio que sejamos só sangue, veias, cérebros, ou esse conjunto violável de órgãos. Nem tuas lágrimas sejam apenas um líquido estéril que jorre dos teus olhos.